6.8.13

suas mãos querem me soltar e eu posso sentir seus olhos mudando a direção dos seus passos.
você não sabe se vai, se fica, se finge, mas já não está e essa ausência é tudo. ter você é ser sozinha como nunca.
você não sabe se se explica, se deixa morrer, se algum dia isso já esteve vivo. se gosta de mim com todas as forças ou se não gosta nem o suficiente para se importar.
e eu aqui, ainda atordoada pelo despertar barulhento, tentando entender por que é que você me acordou se não pretendia ficar e me ajudar a atravessar o dia.
você não sabe se é uma fase, se é a rotina, se foi só o momento. você não sabe se me expulsa de uma vez ou se me deixa partir aos poucos com a culpa de não ter dado certo.
você não sabe de nada e é por isso que eu não te reconheço naquele cara cheio de certezas que me pediu para dividir todo o resto dos meus dias no primeiro olhar.

2.7.13

Quantas lágrimas

Olha, viver tem me doído. Os ossos estão que não se aguentam e o coração, coitado, não acelera nem quando atravesso a rua sem olhar. Se não fosse de pequenezas, nem sei como viveria.

Eu bem queria ter ao meu lado a família que deixei, então este fim de domingo seria de churrasco e música, não de cachaça e solidão. Mas muitas coisas passaram sem dizer, os cabelos já mudaram de cor, a cidade ganhou novos prédios e os celulares roubaram o romance de um telefonema.

Ah, quantas lágrimas eu tenho derramado, só em saber que não posso mais reviver o meu passado.

Se antes eu me preenchia de satisfação e orgulho das minhas crias, hoje nem ao menos tento voltar a vê-las. Porque não fui um bom homem, admito, e hoje já não tenho esperanças de consertar meus erros. Apenas aceito e lamento o que um dia foi meu lar. Era feliz, era vivo, tinha amor. Tinha tudo e sabia, e cuidava, e mantinha.

Eu vivia cheio de esperança e de alegria, eu cantava, eu sorria. Mas hoje em dia eu não tenho mais a alegria dos tempos atrás.

Mas hoje em dia eu não tenho mais a alegria dos tempos atrás.

Só melancolia os meus olhos trazem. Ai, quanta saudade a lembrança traz. Se houvesse retrocesso na idade, eu não teria saudade da minha mocidade.

Os lábios que entoavam o samba triste, já tão amargos do álcool barato, desaprenderam a sorrir. Fecharam-se para os pedidos de desculpas, os gritos que libertam, as confissões que tiram o peso do coração. Restou um punhado de canções de letras trocadas e afinação precária.

Mas hoje em dia eu não tenho mais a alegria dos tempos atrás.

O rádio abafado repetia o refrão e o homem acompanhava aos murmúrios, pensando em tudo que quase foi. E se foi. Numa mão, o copo americano vazio. Na outra, uma fotografia. O atendente do balcão, já tão acostumado com seu sono repentino, não se surpreendeu e disse "estamos fechando". Ele se foi. "Estamos fechando", repetiu o garçom "Você paga amanhã, mas precisa ir embora". E ele foi. Ainda que não se movesse, já não estava lá.

25.6.13

de tanto me disfarçar e me esconder e me privar e me dobrar pra caber em corações pequenos demais
a armadura é que me veste
e me exibe por aí como uma vingança por querer me travestir de quem não sou

18.3.13

 

é como se as esquinas todas existissem só pela função de te abrigar e você estivesse agora em uma delas esperando por mim.
como você ousa tornar todas as esquinas e esperas inuteis?
e quem é você pra desmerecer os cantos da cidade que só nasceram pra ter seus pedaços?
 

27.2.13

a única coisa que eu tinha para te oferecer era o risco. e eu, como boa amante do incerto, nunca vou entender por que o cômodo venceu.
você partiu como sempre parte. foi como sempre vai.
eu nunca vou entender por que você trocou uma aventura nova pela mesma aventura de sempre.

Você precisa saber de mim


a vida é sempre uma aventura quando a sensação de deixar o chão é também o

sentimento de ir pra casa.
onde quer que seja minha casa.