25.12.09

oração

primeiro se esqueceu da oração: era um pai nosso e ela começou um ave maria. depois errou a parte do pão nosso de cada dia e não conseguiu continuar. surgiu um riso, e outro. a criança voltou sua concentração para o presente colorido. mais risos. fechei os olhos e ouvi suas palavras embargadas de uísque e mágoa. não era engraçado. eu só não queria sentir o clima de almodóvar decadente, o sangue árabe começando a pulsar latino, as visitas um pouco constrangidas por não conhecerem o lado da família que se esconde na imagem perfeita.
então voltamos a fingir que o álcool não incomoda, que a morte não se aproxima, que o inconveniente não enlouquece, que não é insuportável pisar em ovos e manter tradições ridículas ao invés de resolver um problema. um brinde à falsidade! oremos à hipocrisia! todos se levantem, porque é meia-noite e hoje nós somos cristãos! vamos lá, não é bom manter a pose e sorrir sorrisos plásticos? não é bom quando dizem ter inveja da nossa união, da família exemplar?
um brinde ao uísque que a mantém em pé e derruba todos os outros à sua volta. uma reverência ao frágil cordão que ampara o que esteve prestes a cair desde que surgiu. oremos por um natal de paz.

11.12.09

estou me equilibrando em pontas finas, quinas, sapatilhas. por favor, não me deixe cair.

1.12.09

um sopro e o castelo se desfez
areia, sal, restos misturados ao vento
o azul mar/céu se fundia ao meio
os cabelos queriam ser sal, queriam voar
as mãos queriam ser areia, queriam dançar
e a parte de mim que nada queria, voava e dançava.
involuntariamente resto.